sábado, 15 de maio de 2010

Inflação dispara em maio e registra quase o dobro de abril



Não foi à toa que o Ministério da Fazenda anunciou um megacorte de R$ 10 bilhões nas despesas federais com o objetivo de conter o crescimento econômico e que o Banco Central (BC) deu início ao ciclo de aperto monetário, subindo os juros básicos de 8,75% ao ano para 9,50%. As duas iniciativas tiveram a intenção de conter a espiral inflacionária. Nos últimos meses, o preço dos produtos e serviços pesou além da conta no bolso do consumidor. Tudo indica que a carestia não dará trégua em 2010.

O acontecimento mais recente foi a divulgação, pela Fundação Getulio Vargas, do Índice Geral de Preços (IGP-10) de maio. O indicador avançou quase duas vezes mais do que havia variado em abril, passando de uma alta de 0,63% para 1,11%. “Já era para a os preços estarem desacelerando, mas não foi o que se viu. É provável que em algum tempo esse quadro mude, por conta das políticas de aperto fiscal que foram adotadas. Porém, em curtíssimo prazo, a situação não deve se alterar”, salientou o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.Dos fatores que pesaram no IGP-10 de maio, o subgrupo industrial foi o que mais contribuiu para a alta da inflação. Retirando do cálculo a variação dos combustíveis e dos produtos alimentares, o Índice de Preços ao Atacado (IPA) da indústria bateu em 1,76%. Em abril, essa variação havia sido de 0,77%. “O vilão desse quadro foi o minério de ferro, que teve um reajuste altíssimo. Sem essa remarcação, a alta do índice em maio teria sido de 0,67%”, disse o economista Fábio Romão, da LCA consultores.Em maio, o minério de ferro ficou em média 21,02% mais caro quando comparado com o preço de igual mês do ano passado. Na avaliação do Banco Santander, essa elevação veio conforme o esperado e foi antecedida pela alta de outros subprodutos, como o ferro-gusa, que também tem impacto grande na cadeia produtiva. É o exemplo da cana-de-açúcar, que variou 6,28% no período. Também em maio, produtos como o leite in natura (8,24%), o feijão em grão (15,80%) e os bovinos (3,14%) também pesaram no bolso do brasileiro. Em contrapartida, ficou mais barato levar para casa a laranja (-16,97%), o açúcar cristal (-6,70%) e o tomate (-15,33%).Matérias-primasPara Leonardo Miceli, economista da SLW Asset, o mau comportamento dos preços deve se manter ao longo do ano. “Em relação aos núcleos de inflação, ainda não houve nenhum arrefecimento. E os índices de difusão também estão aumentando”, lembrou. Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV, diz que essa trajetória se deve a uma recuperação econômica em alguns dos países compradores de matérias-primas brasileiras, que passaram a fazer mais encomendas desde o início do ano. Isso diminuiu a oferta de mercadorias no mercado interno.“O que a gente está observando é consequência de um quadro macroeconômico de expansão mundial, e não só brasileiro. Essa retomada causa pressão nos preços das commodities e nas matérias-primas. E tende a ser a característica ao longo do ano, porque é um comportamento decorrente do cenário global”, disse Quadros.

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